Tribuna Popular: Comandante do 3º BPAT explana dados da violência em Bento
Devido a uma matéria divulgada por um veículo de comunicação local, que informava o aumento de 90% nos casos de assalto em Bento Gonçalves, o presidente da Câmara Municipal de Bento Gonçalves, vereador Rafael Pasqualotto (Progressistas), convidou o comandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPAT), tenente-coronel Luis Fernando Becker, para explanar os dados da violência no município. Ele fez uso da Tribuna Popular, na tarde dessa segunda-feira(22). Atualmente, o roubo a pedestre e a presença de facções criminosas seguem sendo os maiores desafios enfrentados pela segurança pública.
De acordo com o comandante, “é fácil trazer um dado sem expressar de uma forma mais explicativa”, exemplificando a redução de 600% nos casos de homicídios no mês de outubro, se comparado ao mês de janeiro deste ano, visto que não houve nenhuma ocorrência neste período. Demonstrando que as estatísticas nem sempre vão de encontro com a realidade e os números necessitam de interpretação.
O 3º BPAT atende 25 municípios da região e evidencia que o roubo a pedestre é a principal problemática registrada. “O roubo a transporte coletivo é muito pequeno, então, qualquer registro que ocorra de um mês para o outro a distorção vai ser muito grande”, explica o tenente-coronel Becker. Porém, o roubo a pedestre é uma prática que desafia as autoridades visto que o meliante normalmente aborda o cidadão insinuando ter uma faca, uma arma, ameaça a pessoa e realmente acaba fugindo com o aparelho de celular, de fácil comercialização e de alto valor no mercado ilegal. Já em relação ao roubo a estabelecimentos comerciais, os números vêm sendo reduzidos desde 2017 e hoje, segundo o comandante, não chegam a 10% dos registrados naquele ano.
O comandante chama atenção para a apreensão de drogas, que já ultrapassa os 70 quilos neste ano, até o mês de outubro. “É algo preocupante que denota uma atenção muito grande”, destaca Becker ao salientar que “não podemos dizer que aqui é um paraíso. Temos que demonstrar uma realidade, mas dentro de um pensamento positivo”, completa o tenente-coronel ao destacar o aporte de dois novos promotores e dois novos delegados que já demostram um trabalho diferenciado no enfrentamento as facções criminosas.
Trabalhos como o desenvolvido pelo Centro Integrado de Operações (CIOp) produzem material de forma muito positiva, estudados por diversos municípios do país, sendo referência nas ações de inteligência e investigação, perfilando veículos e indivíduos, muitas vezes interceptados antes mesmo do crime ocorrer. A Base Móvel é referência no Centro de Bento Gonçalves promovendo ações de inteligência e o deslocamento da corporação de forma eficiente aumentando a efetividade do trabalho reduzindo as ocorrências de roubo nos estabelecimentos comerciais. Além das prisões de forma integrativa com outros órgãos de segurança.
O comandante do 3º BPAT salienta que a corporação tem efetuado inúmeras prisões e revela um desgaste constantemente sofrido pelos profissionais. “Cada prisão dessas aí, quase que em todas, o nosso policial acaba respondendo a um Inquérito Policial Militar gerado por uma queixa. De uma forma paulatina, o nosso policial acaba respondendo, em alguns casos, mesmo cumprindo com todas as regras”, desabafa o tenente-coronel ao reforçar que as dificuldades não diminuem os esforços dos policiais. “Eles não baixam a cabeça. Eles tem essa vontade, esse ímpeto, de conseguir, principalmente, de desarmar, prender pessoas que estão armadas em nossa comunidade. Isto é algo notório no nosso policial militar!”
Ações sociais, palestras, envolvimento escolar e foco nos registros de “Maria da Penha” também fazem parte da rotina da corporação, que também atende diariamente diversos acidentes de trânsito, registros de violência doméstica e situações inerentes a causa animal, com aproximadamente 700 visitas realizadas em residências e estabelecimentos comerciais. “Precisamos muito da ajuda da população para tornar Bento Gonçalves uma cidade melhor!”
Após a sua explanação, o tenente-coronel foi indagado pelos vereadores José Antônio Gava (PDT), Rafael Fantin – Dentinho (PSD), Agostinho Petroli (MDB), Anderson Zanella (PP), Edson Biasi (PP) e Leopoldo Benatti (REPUBLICANOS) sobre crimes virtuais e impunidade, homicídios e insegurança, o barulho oriundo de som de carros e bares, a lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas das 22h às 6h em áreas públicas, disponibilidade da Base Móvel para atendimento aos bairros e distritos e a colocação de tela para inibir a entrada de aparelhos de celulares no presídio, respectivamente.
O comandante Becker comentou a dificuldade de desarticular os crimes virtuais e a impunidade que acaba ocorrendo quando o flagrante não é homologado. “Se destrói a droga, manda se destruir a arma, se devolve o valor à vítima e o criminoso é liberado”, destaca o tenente-coronel ao falar também da dificuldade de fiscalizar os presos em prisão domiciliar. Atualmente, Bento Gonçalves tem 100 indivíduos em prisão domiciliar sem tornozeleira eletrônica, o que dificulta o acompanhamento desses presos que acabam por cometer novos crimes, mesmo em condicional.
Sobre os homicídios, o comandante vê no presídio a principal articulação. Onde líderes e facções criminosas utilizam aparelhos celulares, arremessados para o interior da instituição penal, para comandar ataques externos, assim como golpes aplicados na população de forma virtual. “Quando elas (as facções) se equilibram é uma disputa muito grande para tentar a dominância. Tivemos, nesse sentido, uma disputa muito grande, chamando inclusive pessoas de fora do município para cometer algumas execuções. Algumas a gente teve a prisão desses indivíduos após tentativa de homicídio”, ressalta Becker ao relembrar a morte de um dos criminosos ocorrida durante uma operação realizada no município vizinho de Garibaldi. “Temos como uma problemática grande do município. É uma vida, alguém que importa, e há sempre o risco de alguém estar no lugar errado, na hora errada e há sempre o risco de ser ou não criminoso. Não é nunca bom pra nós. Mas, realmente, com a vinda desses dois novos delegados a gente sentiu uma diferença grande nos pedidos de mandado de busca em locais de criminalidade. A tendência de melhorar!”
Uma boa notícia citada pelo comandante é o aporte de 20 novos policiais que devem chegar ao município, oriundos da última turma de formação, pela região estar inserida no RS Seguro, projeto que visa dar atenção aos 23 municípios com maior concentração de ocorrências criminais.
Já perturbação sonora é uma problemática que aumenta com o verão. Para o comandante, a questão tem mais a ver com educação do que uma questão criminal, porque a pessoa que é abordada muitas vezes se acha no direito de estar ali e acredita não estar fazendo nada de errado. “É uma dificuldade extrema e a gente, realmente, vai pontuando com a preocupação de não tolir a diversão do público”, revela o tenente-coronel ao falar sobre as abordagem da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam) que já apreendeu diversas motocicletas com a descarga aberta. “Foram em torno de 20 motos recolhidas em dois dias de operação neste sentido. E porque a pessoa quer tirar o miolo da descarga, pra incomodar mesmo, não dá pra entender o motivo disso e a gente vai autuando”, enfatiza Becker ao solicitar que a comunidade informe as demandas que a corporação irá trabalhar para focar, principalmente, nesses locais mais problemáticos. “Estamos atentos a essa questão e teremos que tomar algumas medidas envolvendo todos os outros órgãos da segurança pública.”
Na questão da lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas das 22h às 6h em áreas públicas o comandante afirmou ser necessário um plano integrado entre as forças de segurança para fiscalizar e cumprir o que determina a lei, exigido estudos e esforços futuros neste sentido. Quanto a Base Móvel, o objetivo foi proporcionar aos comerciantes da região central um ponto de referência que inibe a proliferação de delitos na área. Porém, o comandante acredita ser possível levar a Base Móvel para outras localidades desde que haja condições de funcionamento dos mecanismos interiores, como a necessidade de energia elétrica, por exemplo. “Pode ser plenamente utilizada em alguns bairros. A gente já usou em alguns eventos, como um local de aporte até, por ser móvel a gente pode usar por toda a cidade”, salientou o tenente-coronel ao agradecer a sugestão.
Quanto ao arremesso de aparelhos de celulares para o interior do presídio, o comandante avalia que a parceria com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) tem reduzido este índice que apresentava uma incidência por dia, no início do ano, e agora ocorre de forma esporádica após a instalação de telas e câmeras para segurança, criando ainda mais dificuldades para os infratores. “Esse prende e solta acontece muito, mas não desmotiva o nosso policial. Realmente, ele encara isso como uma problemática, mas acaba ‘vamos prender mais uma vez se precisar, não depende da gente, mas vamos fazer a nossa parte’ e esse é o pensamento do nosso pessoal”, conclui o tenente-coronel Becker ao dizer que está ao lado da população no combate ao crime.